Velha Amiga 146.610

A Repetidora VHF de Itapecerica da Serra, 146.610, faz parte da história do Rancho da Amizade, presente em nossas memórias e nossos corações, e continua viva em nossas iniciativas. Vamos aqui contar um pouco mais sobre esta estação.

Um pouco da história

light
usina edgard souza
Usina Edgard Souza
represa guarapiranga
Represa Guarapiranga
serra do mar
Complexo “Billings-Borden”
Trolleybus CMTC 1961

Em 1899 o então presidente da República, Campos Sales, decretava a fundação da “São Paulo Tramway, Light and Power Company”, a qual iniciou suas operações em 1901 através da Usina Hidrelétrica Edgard Souza na cidade de Santana de Parnaíba SP, produzindo iniciais 2megaWatt de energia elétrica. Nos anos e décadas seguintes, diante do aumento exponencial da demanda por energia elétrica na Grande São Paulo, a “Light São Paulo” realizou diversas intervenções hidrográficas nos rios paulistas, para suprir as usinas hidrelétricas e gerar mais eletricidade.


Entre as décadas de 20 e 50, cursos de rios paulistas foram alterados, e dentre os mais importantes podemos citar: retificação dos rios Pinheiros e Tietê, criando as vias marginais para tráfego de veículos; alteração de jusante do rio Guarapiranga, criando o reservatório Guarapiranga; alterações e diques no Rio Grande e Rio das Pedras, criando o reservatório Billings; as usinas elevatórias de Pedreira e de Traição (esta última no Rio Pinheiros) – para que entregassem água em volume e pressão na usina Henry Borden em Cubatão. A Light São Paulo também criou e fomentou outras áreas da infraestrutura paulista, a exemplo da CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos) que assumiu as operações de bondes elétricos e rapidamente os substituiu por ônibus elétricos (trolley buses, ou simplesmente, trólebus).


Até o final da década de 1970, a Light São Paulo gerava e fornecia energia elétrica para toda a “costa leste” do Estado de São Paulo (desde o vale do Paraíba, Grande São Paulo, Vale do Ribeira, todo o litoral) além de cidades e regiões do interior que eram atendidas ou beneficiadas pelas linhas férreas (em especial a E.F. Sorocabana). Em 1980, contava com mais de 30mil empregados diretos, sendo uma das maiores empresas de energia do mundo. Em 1981, o controle da empresa (estatal) foi transferido para o Governo do Estado de São Paulo, rebatizando-a como “Eletropaulo”.


Aqui começa a história da Velha Amiga 146.610.

O Passado (*)

caminhão eletropaulo
Caminhão Eletropaulo em 1989
logotipo arep
Jornal da AREP em 1990

Créditos: ahrb.com.br

Numa época em que não existia telefonia móvel e a telefonia fixa STFC era onerosa e precária, empresas do porte da Eletropaulo baseavam as comunicações operacionais em rádio, especialmente na moderna banda de VHF. Imagine então uma empresa com 30mil empregados que em sua maioria eram técnicos e rotineiramente operavam rádios VHF… uma consequência natural neste cenário, é que muitos deles acabavam tornando-se radioamadores. Aglutinando-se e com suporte da Labre, estes radioamadores foram “levantando” repetidoras pelas regiões onde atuavam e residiam.

Dado o tamanho que o grupo alcançara, em 1985 oficialmente iniciaram a AREP – Associação dos Radioamadores da Eletropaulo. Já contando com apoio da Labre e Dentel, agora ganhavam um suporte de peso: a própria Eletropaulo. As estações repetidoras passavam a ser oficialmente instaladas em locais “emprestados” pela empresa, geralmente junto a instalações da Eletropaulo em locais de geografia privilegiada.

Este foi o caso da repetidora 146.610, instalada em Itapecerica da Serra, em local privilegiado e com boa altitude, dentro de uma das instalações operacionais da Eletropaulo na cidade. Os radioamadores que operavam esta repetidora nas décadas de 80 e 90, a chamavam de “Repetidora de Itapecerica”, todavia era comum que outros colegas (geralmente da AREP) referir-se a ela como “Repetidora da Regional Sul”. Não necessariamente em alusão à Labre-SP, mas provavelmente referiam-se à região de operações da Eletropaulo.

Em 1999 a Eletropaulo foi privatizada, assumindo o nome “AES Eletropaulo”. Alguns anos depois, a AREP encerrou suas atividades formais, e desde então a Labre-SP (detentora da outorga e licença) vêm designando e dando suporte a mantenedores entusiastas da repetidora 146.610 (atualmente PY2KBX). Os mantenedores posteriores, mais o suporte da Labre-SP, asseguraram operações da repetidora de forma satisfatória por mais de uma década.

Mas as coisas viriam a mudar.

O presente (e o esforço dos rancheiros)

Lembremos que em 2018 a Eletropaulo mudou de acionistas e controladores, passando ser a “Enel São Paulo”. Desde 2019, o Rancho da Amizade vinha conduzindo suas rodadas diárias por meio da PY2KBX, a qual já apresentava vícios de manutenção, mais perceptíveis em dias chuvosos ou muito frios. Em um certo momento, os rancheiros tomaram a iniciativa de candidatarem-se como mantenedores, ou ao menos, trazerem para si a responsabilidade de manutenção da estação. Desde o início dos contatos com a Labre e com a Enel, que sempre nos receberam muito bem e demonstrando igual interesse e desejo na revitalização da repetidora, alguns entraves burocráticos foram encontrados.

Como podemos perceber, estamos falando de uma estação repetidora com quase 40 anos de vida e história, até por isso os rancheiros a apelidam carinhosamente de “Velha Amiga”. Apesar da outorga e licença estarem sob a Labre-SP, uma repetidora não funciona apenas com boa vontade e papel, depende de locais físicos, mantenedores físicos, equipamentos físicos. E este é o entrave: os equipamentos, contratos, cessão de local, etc, estão registrados sob responsabilidades de pessoas e/ou entidades que já não estão mais “disponíveis”. O Rancho da Amizade não poderia, legalmente, acessar locais e substituir equipamentos que estão sob contrato ou propriedade de terceiros – não mais tangíveis.

Uma solução proposta foi a desativação física da repetidora e sua transferência para outro local, com novos equipamentos. Uma solução que parecia ser prática, todavia seria um vilipêndio, seria como apagar quase 40 anos de história ao simplesmente subir uma torre em outro local e com outras características. O Rancho da Amizade surgiu na década de 90, e preza pela história, própria e de terceiros, apaixonados pelo radioamadorismo.

Algum tempo depois, graças ao resiliente esforço dos rancheiros em encontrar uma solução, e também com colaboração de colegas radioamadores apaixonados, o Rancho da Amizade foi presenteado com o convite e autorização a tornar-se mantenedor de uma repetidora que necessitava de reativação e renovação – missão aceita de peito aberto e realizada com o coração.

O futuro

Este não é o fim de nossa Velha Amiga. Longe disso. Alguns rancheiros até hoje mantém, e continuarão a manter, negociações com a Labre e Enel no sentido de procurarem juntos uma ajuda e revitalização para a repetidora PY2KBX.

De certo que em algum momento a repetidora terá de permanecer desligada por algum tempo, afinal manutenção e troca de equipamentos requerem que eles sejam desligados.

Não é fácil resolver entraves burocráticos com papéis e contratos de mais de 30 anos e já sem suporte. Ainda que estejamos diante de um longo e demorado caminho, o Rancho da Amizade continuará atento a este assunto, e não abandonará a Velha Amiga 146.610.

(*) NOTAS:

A narração histórica deste artigo contou com depoimentos testemunhais e artigos históricos, porém não foi possível encontrar documentos oficiais que pudessem ser aqui publicados para corroborar e/ou complementar o conteúdo deste artigo (muitos dos documentos geralmente são considerados confidenciais pois podem expor dados pessoais de terceiros).

Se você é testemunha desta época e/ou destes fatos, ou possui alguma informação nova, ou deseja compartilhar seu relato ou depoimento sobre este assunto, por favor entre em contato com o Rancho da Amizade, e também sintam-se convidados(as) a deixarem suas opiniões e relatos na área de comentários abaixo.

AVISO LEGAL:

  • Este artigo é meramente informativo, não possui qualquer validade para fins de registro histórico, acadêmico, tampouco jurídico, visto que alguns dos relatos históricos (sobre AREP) foram baseados em fontes não fiáveis;
  • O autor deste artigo E o Rancho da Amizade não possuem qualquer autorização para falar em nome de terceiros, portanto as narrações e opiniões aqui expressas não necessariamente condizem com as posições oficiais das entidades mencionadas neste conteúdo, bem como fica reservado o direito aos representantes legais destas entidades a complementarem este artigo com suas posições oficiais se assim o desejarem;
  • O Rancho da Amizade não autoriza a reprodução/divulgação deste artigo, nem de partes nem do todo, alertando que algumas partes deste conteúdo são protegidas por direitos autorais pertencentes a terceiros.

Um forte 73 dos Rancheiros.

1 comentário

    • Clóvis em 10 de agosto de 2021 às 18:12
    • Responder

    A instalação da repetidora, só foi possível, pelo o apoio do colega Marcelo Rossi, (SK PY2SI), por ser funcionário da Eletropaulo na época, facilitou em muito a instalação no local.
    Estive uma vez no local, para troca de equipamentos nos anos 90.

    PY2KG

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